A Forma da Água

A Forma da Água – Para com isso, Del Toro

A Forma da Água

A Forma da Água é o tipo de filme que coloca a crítica em uma situação difícil. A crítica de arte tem como um de seus vários papéis compreender e expandir uma obra, fazendo que as raízes criadas pela arte continuem nutrindo as reflexões iniciadas pelos artistas. Criticar A Forma da Água, entretanto, é um desses casos que a crítica precisa assumir uma outra postura, infelizmente. Às vezes a crítica tem que dizer não…

Me ajuda! Você gostou de alguma coisa no filme? Diz pra mim o que que foi, porque, sinceramente, desde o primeiro minuto do filme, o nariz virou e nenhuma escolha do Del Toro parecia boa.

E olha que eu gosto do diretor. Por isso, eu bem que poderia dar uma ~eufemismada~ falando bem dos filmes que ele já fez, de sua importância nos filmes de aventura de Hollywood… Mas ele não me ajudou a ajudá-lo. Muito menos poderia incorrer no mesmo erro do filme dele: cair num sentimentalismo infundado.

O Amor

Pra não dizer que não tem coisa boa no filme, quando a gente pensa (não muito), percebemos que a premissa do filme é boa: o amor, um sublime sentimento capaz de expandir nossas relações humanas independente de forma ou cor (ou espécie). Um sentimento que, num mundo ideal, permitiria conciliar as coisas mais diferentes em uma só coisa. O mundo precisa desse discurso. Sempre vale a pena ressaltar esse que é um dos maiores e melhores fenômenos nessa terrinha chamada Terra. Façam quantos filmes se quiserem sobre isso. Amor é bom.

As escolhas, entretanto…

Sobre amor pode, só me faça as escolhas de direção (e roteiro) certas e não tão clichês! Agora, os que gostaram do filme, por favor, fechem os olhos agora porque o negócio vai ficar muito sério.

Você já achou que era amor, mas uma semana depois descobriu que não era nada? Isso significa que era sentimentalismo… Digo isso não do sentimentos entre o casalsinho do filme. Isso aí é por conta deles. É o sentimentalismo na forma de construir os elementos do filme.

Sentimentalismo

Sentimentalismo é colocar um cinema debaixo da casa da protagonista. Pra que isso, narrativamente? Pra que criar uma relação dos personagens com filmes musicais e com o sapateado? Para fazer um contraste com o fato dela ser muda? Parece que tem algo aí em A Forma da Água. Supostamente é para ter. Mas não tem. O sentimentalismo utiliza desses atalhos. É difícil construir personagens fofinhos e sonhadores, então a gente pega um atalho e faz elas gostarem de coisas fofinhas e sonhadoras. Aí não precisa criar uma psicologia mais complexa. Então, que tal o personagem gostar de… Filmes musicais? Sim! E assim você substitui uma das coisas mais significativas do roteiro, que é a construção dos personagens. É só terceirizar o desenvolvimento da psicologia do personagem vinculando o que ele é com as coisas que eles gostam. É assim que acontece em A Forma da Água.

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Agora eu te pergunto: pensa em duas pessoas que adoram… Rap. Por mais coisas em comuns que elas possam ter, a psicologia delas possui grandes diferenças… Seria simplista demais fazer qualquer tipo de observação mais profunda dessas pessoas observando apenas o fato de que elas gostam de rap.

Mas tudo bem, ela sofre de amor, ela se apaixona, ela renuncia de boa parte de sua vida e o filme segue clichê após clichê.

O Filme

O poster de A Forma da Água
Tava no cartaz! Nem precisava ter visto o filme…

Grandes vilões. Grandes heróis. Altas aventuras. E é isso. A Forma da Água vem para ser um filme com uma grande mensagem de amor, contra a intolerância e posturas autoritárias. Mas o que vemos de fato é uma narrativa à la Sessão da Tarde com cenas picantes para um público adulto. A direção de arte é tão bem feitinha que quase parece um filme cover de Amelie Poulain.

Não entendo o apelo da obra. Pelos motivos conceituais iniciais, deveria ser um bom filme.

Mas A Forma da Água não desenvolve nada desses conceitos iniciais. Inclusive, o melhor plano do filme, o último, É O DO CARTAZ! A imagem mais bonita de A Forma da Água está presente no próprio cartaz! É o cúmulo da obviedade. O roteiro na sinopse, a imagem no cartaz.

Sem mais…

Não gosto de fazer esse tipo de crítica, mas, para com isso Del Toro. Vamos manter os bons modos no cinema. Vamos utilizar essas 2 horas mágicas que o cinema pode nos proporcionar para trazer discussões mais profundas, menos óbvias e personagens mais completos e complexos. Vale ressaltar que é uma pena esse filme ser tão premiado. Mostra um certo descaso das grandes instituições do cinema com as construções narrativas e o desenvolvimento dos conceitos nos filmes. Tinha filmes mais bem construídos e impactantes em disputa. Não é mesmo, Me Chame Pelo Seu Nome e Lady Bird?

Você odiou o filme ou está me odiando? Conta pra mim o que gostou e não gostou em A Forma da Água!

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