Happy! de Grant Morrison e Darick Robertson é uma HQ dessas básicas, que valem a leitura, mas não está no hall das obras-primas do gênero. Com um enredo até criativo em certos pontos, esta não consegue chegar aos pés das outras produções desses dois autores.
Grant Morrison é conhecido por escrever complexos enredos e renovar super-heróis clássicos. O escocês produziu belíssimas séries como “Grandes Astros: Superman”, “Os Invisíveis” e uma que particularmente tem um lugar especial na minha prateleira por sua dose de criatividade e cliché, “Corporação Batman”. Já Darick Robertson é conhecido por ter desenhado o magistral “Transmetropolitan” e as HQs do Wolverine assinadas por Frank Miller.
Happy! conta sobre um ex-policial corrupto que se envolve nas piores atividades que uma cidade pode ter. Após ser alvejado e ter uma bala alojada no seu corpo, Nick Sax começa a ter alucinações de um pequeno e infantil unicórnio com asas azul chamado Happy. Assim como em muitas tramas policias de filmes dos anos 80 e 90, a partir de várias circunstâncias, vemos Nick se envolver em um crime bizarro que envolve um Papai Noel drogado e assassino de crianças. Tudo isso ocorrendo em plena época natalina.
Um primo tinha me contado um pouco da sinopse, mais ou menos da forma como escrevi agora, o que atraiu a minha curiosidade. Quando vi o preço em promoção da edição completa editada pela Devir em uma pequena livraria na Avenida Paulista passou de curiosidade para conquistado a minha atenção. (À lá Calvin Candie em Django Livre)
Vale ressaltar aqui que esta edição é muito bem-feita, com uma bela capa e vários materiais extras. Mas vamos ao que importa!
Happy! está longe dos complexos enredos feitos por Morrison e até foi algo que senti falta ao terminar a leitura. Uma premissa tão interessante poderia ter sido mais bem abordada por esse autor. Porém, vejo que essa era a sua intenção. Ao unir um elemento imaginário com uma trama clássica de policial corrupto, percebemos que a realidade pode ser mais dura do que observamos.
Em Happy! é mostrado uma cidade repleta de usuários de drogas, sexo cruel, apostas e violência sanguinolenta. O que está diametralmente oposto ao personagem Happy, que de forma quase infantil, acompanha Nick Sax em todas essas situações. Isso nos faz sentir, em certos momentos, ingênuos com relação ao que acontece na realidade de uma grande cidade.
Porém, é como se a intenção dos dois autores era justamente essa, colocar muito grafismo de violência e consumo de drogas apenas para chocar o leitor, já que a trama não consegue se conectar tanto a esses momentos mais “chocantes”.
A curiosidade por saber quem era Happy foi maior do que saber como o Papai Noel assassino seria pego. Ao final, conseguimos ter uma solução clássica sobre esses dois mistérios, o que faz desta HQ uma boa leitura, mas nada tão criativo que mereça um Prêmio Eisner ou fazer dele uma das grandes Graphic Novels desta década.
Agora, se você procura por um bom enredo de alucinações na vida real, eu recomendo que você feche sua HQ de Happy! e vá assistir Donnie Darko. Quando você acabar o filme, me explica o que entendeu dele e podemos ter boas conversas sobre as teorias de cada um. Mas se você quiser um momento mais introspectivo, sem papo cabeça, pode retomar a sua leitura de Happy!.