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Lady Bird – Tempo de Amadurecer

Cartaz de Lady Bird
Um dos cartazes de Lady Bird.

Mesmo sendo um filme de ineditismos, Lady Bird é uma obra corajosa. Quem assumiria em sua primeira direção um filme com temática adolescente/jovem adulto? Ou quem colocaria uma jovem atriz para conduzir as ações narrativas do filme? A diretora do filme, Greta Gerwin faria. Coragem e competência não faltam em Lady Bird, um filme que se destaca no mainstream americano.

A adolescência

É natural nos identificarmos com histórias e personagens que se pareçam com a gente de alguma forma. Seja um aspecto psicológico, físico ou até mesmo ideológico. Normalmente, quanto mais compartilhamos emoções e ideais com os personagens e narrativas, mais conseguimos nos conectar sensivelmente com a história.

Lady Bird faz o que muitos filmes e personagens adolescentes não conseguem: nos re-conecta (ou conecta, você que ainda está nessa época importante da vida) com os sentimentos que surgem nas primeiras grandes escolhas na vida. Amizades, relacionamentos, profissão… Chega uma época da vida onde vivemos experiências inéditas e que parecem, então, de suma importância na vida. Quem nunca viveu isso? Esse é o grande mérito de Lady Bird. É um filme justo para essa etapa da vida, onde buscamos nossa afirmação individual e, sobretudo, nossa liberdade. Lady Bird, como muito se comenta, é sim um filme sobre liberdade. Mas não é só isso.

Complexidade dos personagens contemporâneos

Entretanto, Lady Bird fica realmente interessante ao trazer para pauta assuntos ainda mais profundos do que a conquista da liberdade.

Todo mundo quer liberdade. Nossa sociedade, ainda com ares primitivos, teima em limitar, oprimir e julgar. Precisamos, sim, de liberdade. Mas isso não significa que devemos constatar isso e nos dar por satisfeitos.

Lady Bird traz algo que, eu diria, é uma tendência nos personagens atualmente: complexibilidade e dicotomia. Aí sim, o filme se torna interessante.

Greta Gerwin pinta seus personagens de muitas cores e foge de clichês. A menina riquinha é chatinha, mas não tanto assim. As freiras e padres do colégio não são apenas impositores e intimidadores. São humanos e companheiros. O primeiro namoradinho trai ela, mas tudo bem. Ele estava apenas descobrindo sua sexualidade.

Lady Bird e seu primeiro namorado.
Lady Bird e seu primeiro namorado.

E com Christine “Lady Bird” Mcpherson não é diferente. Ela é uma rebelde com causa e sem causa. Ao mesmo tempo em que tem todo o direito do mundo de ter seus sonhos e vontades, também tem muitas vezes a falta de empatia e o egoísmo de quem acha que o mundo tem que girar em torno de suas vontades. O fato de ter razão em querer fazer a sua própria vontade não significa que não deva prezar por tratar os pais com respeito e entender seus sentimentos. Pais também tem sentimentos, falham e possuem vontade. Porque deveríamos ignorar isso? Por mais lógico que isso possa parecer, é muito bom ver uma personagem com essa ambiguidade. Essa amplidão de psicologias que aproxima ainda mais a arte da vida e pode propor novas e úteis reflexões.

Com um enorme potencial, mas ainda incipiente, Lady Bird falha, acerta, ri, chora e, com os erros, descobre e amadurece. Não descobrimos a todo tempo como poderíamos ter vivido de forma mais fácil o passado? Poderia dizer que gostaria de ter visto Lady Bird com 16 anos e poder ter feito alguma coisa diferente. Mas, sabe, eu ainda falho, acerto, rio, choro, descubro e amadureço. Logo, ainda está em tempo de ver Lady Bird.

A diretora Greta Gerwin
A diretora Greta Gerwin

Greta Gerwin

A mente por trás desse esperançoso filme é Greta Gerwin, uma diretora de Nova Iorque que também é atriz e roteirista.

Greta, um nome muito sugestivo para alguém que vive de cinema, tem uma sólida carreira como atriz, participando de filme grandes como “Roma, com Amor”, do atualmente execrado Woody Allen. Mas, para mim, seu grande destaque, como atriz e roteirista, está em Frances Ha, um ótimo filme que colocou mais uma vez o leste americano na rota das produções cinematográficas.

A atriz, e agora diretora, esteve inserida por vários anos em um movimento nova iorquino chamado Mumblecore, que preza por um cinema alternativo de baixo orçamento, sem muito diálogo escrito, etc. Um movimento interessante até.

Ao fazer Lady Bird, Greta Gerwin entra definitivamente no mapa dos diretores e diretoras a se seguir de perto. Estamos aguardando seus próximos filmes, Greta!

Saoirse Ronan

Agora é real/oficial. Saoirse é uma excelente atriz. Em Lady Bird ela encontra uma personagem que desafia: mais jovem e sob mudanças psicológicas fidedignas à cansativa puberdade. E mesmo assim faz um trabalho excelente. Vale ressaltar que não só ela, mas todo o elenco do filme está muito bem.

Vinda do Bronx, NY, diretamente para as telonas do mundo inteiro, a atriz já acumula 3 nomeações ~na academia~ e diversos outros prêmios. Justo. Também estamos esperando mais trabalhos como esse, Saoirse.

E você? O que achou de Lady Bird? Já teve as consequências da liberdade?

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