Política, sociedade, tradição e medo. O Conto da Aia se torna uma série necessária em um mundo que diverge ao responder uma pergunta fundamental: como tornar o mundo um lugar melhor?
O Conto da Aia
O seriado, uma derivação do conceituado livro homônimo de Margaret Atwood, se mantém fiel às premissas básicas do livro: um debate provocativo sobre o papel da religião, da política e da liberdade. Mas a série consegue colocar um novo olhar na direção de arte e fotografia, que compõem muito bem com a história. Ponto para as equipes de imagem, que criaram imagens que, além de belas e diferentes, dialogam com os conceito da série.
Medo
Agora vamos ao principal: o medo e a ousadia de Margaret Atwood e dos criadores do seriado. O Conto da Aia não conta uma história qualquer. Mesmo sem entrar em fatos e spoilers, podemos dizer que a série aborda temas polêmicos e fortes: religião, estupro, morte, ideologia, política, amor e sexo, para citar alguns. Apesar de abordar variadas discussões, a série não se perde. Se mantém firme em algo que rodeia muitos de nós: o medo do amanhã.
Atwood, entretanto, não parece ter medo em tocar em um tabu tão forte. Isso porque coloca de um lado da trincheira a moral bíblica e religiosa e do outro lado um mundo de liberdades individuais, digamos, não tradicionais, sem nenhuma chance de um cessar fogo ou uma conciliação.
O aspecto mais latente da história reside em justamente trazer para nossa realidade e para nossa pele as emoções de um futuro desprezível e retrógrado. A linha tênue entre a realidade e a ficção torna o seriado super pertinente para os dias atuais e acaba trazendo reflexões imprescindíveis para nós enquanto sociedade.
Isso não significa que a história não tenha seus conflitos, apesar das tentativas de amenizar o discurso. O fato é que a série também aterroriza com sua premissa: “e se acontecer de um grupo extremista religioso assumir o poder?”. Nas entrelinhas, o seriado grita: “vai ficar aí parado? Faça alguma coisa se não vamos todos morrer ou coisa pior”.
Apesar de não apontar dedos para nenhum grupo religioso (ou até mesmo por isso), O Conto da Aia também sugere uma ruptura definitiva entre a ideologia religiosa e a vida laica. Algo que, infelizmente, tem uma triste lógica por trás, mesmo que seja possível a convivência e o equilíbrio de ambas as partes.
Apesar do viés perigoso de Atwood e sua turma, os ônus perdem para os bônus de lavada. Cada questionamento feito, apesar da polêmica e da tendência “”””liberal””””, vale muito a pena ser refletida e respondida segundo os pensamentos de cada um de nós (enquanto ainda dá pra fazer :P)
Queremos um mundo onde todos nós podemos ter liberdades de escolhas? Sim!
Estamos livres de termos nossos direitos cerceados? Não!
Aí que mora o perigo e o medo. E a tia Margareth sabe disso.
Elizabeth Moss
Ah! E a Elizabeth Moss como protagonista? Apesar dos desafios dramáticos e da narrativa pesada, ela está absolutamente madura para encarar um papel desse. Parece ter sido tranquilo para ela, nossa eterna Peggy Olsen, em Mad Men. Mereceu o Globo de Ouro sim! Desponta como mais uma excelente atriz em Hollywood. Em 2018 poderemos conferir mais filmes com ela, inclusive estrelando com a Saoirse Ronan. Tem tudo para ser uma boa dupla!
Pensando em ver O Conto da Aia? Recomendo! Netflix é prático, mas tem coisa boa fora também.
No final das contas, o que podemos fazer para garantir que sejamos mais livres a cada dia, inclusive mantendo a liberdade de cada um ter seus próprios pensamentos e escolhas pessoais?